“Nahira representa um estado de contração e Ziwa um estado de expansão. Estas são as duas forças reguladoras da estrutura interna do ser-humano, e, não por acaso são também as duas forças reguladoras da natureza, do cosmo. Dentro da visão da Cabala, nós usamos a compreensão da cosmogênese, de como o cosmo se formou, para também compreender a formação da estrutura psíquica do ser-humano. E a estrutura psíquica do ser-humano se regula quando este processo de contração e expansão encontra um ritmo equilibrado. Na perspectiva cabalista, estes são os dois padrões de energia que organizam o funcionamento do Universo. Estes conceitos simbolizam os fluxos essenciais de contração e expansão que permeiam todos os aspectos da existência. Nahira é uma expressão que deriva da junção da palavra Na, que quer dizer “luz” e Hira que quer dizer “contração”. Representa a energia feminina, a energia introspectiva, que contrai, que concentra, representando então um estado de contração. Já o termo Ziwá significa literalmente avanço, simboliza a energia masculina, a energia expansiva, que projeta e desbrava. Quando falamos em energia masculina e feminina não estamos falando de gênero, mas de estrutura psíquica que habita em todos os seres-humanos, homens e mulheres. Juntos, estes dois padrões, o padrão de expansão e o de contração, compõem os ciclos de mutação que regem a vida e o cosmo. Os ciclos de Nahira e Ziwá ilustram o movimento constante e inevitável da existência. Ora nós estamos em expansão, ora em contração. A maturidade emocional, espiritual, consiste em não lutar contra a correnteza, ou seja, nos momentos em que eu estou em uma energia mais contraída, procurar fazer coisas saudáveis desta contração; nos momentos em que eu estiver em uma energia mais expansiva, procurar fazer coisas saudáveis desta expansão. Alcançar este equilíbrio, este discernimento, e sobretudo esta sensibilidade, para saber em que momento estamos vivendo, é fundamental para alcançar esta maturidade para que haja um pleno desenvolvimento, e um pleno crescimento de natureza espiritual. Cada transformação encerra um convite à reflexão e à aceitação, ou seja, quando chega para mim o movimento de contração, e às vezes chega na minha vida, às vezes chega no meu biorritmo, às vezes chega na sociedade. Há momentos na humanidade que são de contração, há momentos de expansão. E cada ciclo deste é um convite a uma reflexão, e também a uma aceitação. Aprender a receber estas fases de uma forma madura. Para os cabalistas, a sabedoria emerge ao abraçarmos estas mudanças com serenidade. Se nós ficamos completamente mergulhados somente na necessidade de expansão, de ir para fora, isso provoca um estado de furor, um estado disruptivo, de desequilíbrio, de perda da estabilidade, do eixo que nos estabiliza. Uma pessoa que só vive em função da necessidade de expansão, ela está sempre tentando buscar nas coisas a validação de quem ela é, no outro a validação e quem ela é. E isso pode ir para um caminho muito perigoso, como agressividade, ciúme, eu quero que o outro me valide, eu preciso que o outro me valorize para que eu não me perca de quem eu sou. Aquele que vive em excesso de contração, até quando a vida exige expansão, vive uma vida presa na neurose, um excesso de travamento, vivido numa vida defensiva, de uma sobrecarga de regras que ele mesmo impõe sobre si mesmo, ou que ele vai buscar na sociedade, para controlar ele e o entorno. O excedente da expansão e da contração sempre irá produzir algo de natureza desequilibrada no campo psíquico. Então é muito bom dentro do processo de autoconhecimento, a gente procurar estabelecer este equilíbrio. Nada entra em estagnação. Na natureza não há estagnação. Cada final de um percurso é o começo de um novo percurso. Cada final de uma contração solicita um momento de expansão. Cada final de momento de expansão solicita um momento de contração. Quando um ciclo chega ao fim inevitavelmente ele prepara o terreno para o próximo, que é o ciclo oposto. É assim na história humana, na história psíquica, na história da sociedade, da natureza. Trata-se de um fluxo de continuidade que reside na eternidade. Eternamente este fluxo estará em constante produção de expansão e contração. A maturidade consiste em saber que no momento em que eu estou em processo de expansão, eu sei que daqui a pouco virá um processo de contração, e eu não crio, não cristalizo, não me engesso em uma expectativa de que esta expansão durará para sempre. Maduro é quem consegue alcançar esta compreensão. No momento em que eu estiver em uma contração, seja por conta da minha própria natureza interna, emocional, que eventualmente se contrai, ou seja por uma pressão interna, uma crise, ou como recentemente em que vivemos uma pandemia onde a contração foi imposta, eu preciso saber que toda a contração antecede uma nova expansão, para que eu não me deprima, para que eu não entre em processo endurecido, entristecido em relação à vida. E muitas vezes passamos por uma contração imposta pelas circunstâncias, pelo destino, que dura um certo tempo, e a gente se cristaliza, se eterniza na contração. A vida já não está mais pedindo contração, aquela pressão que estava nos oprimindo já não existe, mas a gente acaba se viciando no processo de contração e acaba se encolhendo, se retraindo diante da vida, e isso vai gerar angústia e sofrimento. Observar e respeitar os ciclos naturais da vida é uma prática que traz serenidade e evita o desequilíbrio. Quando a energia atinge o ápice, ela inevitavelmente retorna ao seu ponto de origem. Isso é uma regra natural. O fogo que arde intensamente se extingue, os mares alternam entre turbulência e calmaria, o sol acende mas também declina, e isso produz um processo cíclico, o dia, a noite, o calor, o frio. Estas alternâncias representam o próprio ritmo da vida. Isso também acontece dentro do campo emocional. Eu não posso me permitir cristalizar dentro de um padrão, seja ele expansivo ou explosivo, contraído ou atrofiado. E não posso também permitir que eu me torne isso para sempre. Esta alternância compõe o ritmo da vida, vitórias, derrotas, entusiasmo, melancolia, todas estas coisas fazem parte da dinâmica da vida. Existe uma alegria na contração, e existe uma alegria na expansão. Quando compreendemos e aceitamos estes padrões, conseguindo trazer alegrias que são cabíveis a cada um destes padrões. Na alegria da expansão eu vou rir, vou sociabilizar, dançar, receber pessoas, mas existe a alegria da contração, que é a alegria do silêncio, da quietude, de ler um livro, ouvir uma música, meditar. É preciso viver as alegrias de cada ciclo. Do ponto de vista da alma não é saudável quando eu só fico bem, seja na expansão, seja na contração. O reconhecimento dos ciclos naturais permite uma evolução espiritual mais profunda. Quando a gente aceita que tudo na vida é transitório, quando começamos a entender e perceber o caráter inevitável dessa afirmação, de que tudo é transitório, desenvolvemos uma postura mais resiliente diante dos desafios e das adversidades que vão surgir inevitavelmente. E essa aceitação não significa passividade, não significa resignação, mas é um alinhamento com o fluxo natural das coisas. Quando reconhecemos que cada momento de baixa energia ou desanimo é uma fase temporária nos tornamos mais aptos a planejar as nossas rotinas, os nossos ciclos de trabalho. Por exemplo, compreender o padrão de altos e baixos energéticos ao longo do dia nos dá a capacidade de ajustar as nossas atividades. Em momentos de baixa energia é fundamental acolher o descanso, permitindo a recarga emocional e espiritual, e estes intervalos de pausa não só preservam a nossa vitalidade mas renovam a nossa disposição para os desafios. Eles produzem potência no ser humano”. (Ena Shamaena de Mario Meir em aula proferida na vivência chamada Kidin – Imagem do Oráculo de Maria Madalena, feito com base em seu Apócrifo, pela Academia de Cabala).

Deixe um comentário